Pois é, este era indispensável e necessário, porém talvez o mais complicado. Que contraditório… quando falam em escrever algo sobre o nosso melhor amigo, é-nos apresentada logo a ideia da coisa mais fácil do mundo… e talvez até seja… não precisamos de escolher as palavras, elas já nos fluem naturalmente, assim como agora, porque talvez seja a pessoa que nós mais conheçamos ou com quem tenhamos mais confiança do que com qualquer outra. E é assim, ele, talvez, seja a pessoa que eu mais conheço verdadeiramente e não apenas de aparência… Eu poderia até arriscar que o conheço melhor a ele do que a mim mesma, e, talvez, nessa “aposta” eu acertasse.

O meu melhor amigo, o que eu posso dizer sobre ele? Bem, um monte de coisas, isso é certo. Das brincadeiras, das conversas ou até os simples momentos que passamos. Enfim, conheci uma pessoa, em apenas alguns meses que me fez rever alguns dos meus conceitos errados de amizade, ou pelo menos… de verdadeira amizade. E sabem o que mais nele me impressionou? O que ele fez por mim, e que metade das pessoas desprezou… Quando me viraram costas, ele foi um dos poucos que ainda se manteve do meu lado e firme, frente a qualquer idiota que viesse perturbar a minha reedificação interior. Apesar de ser rapaz e de precisar tempo com… rapazes, ele é capaz de “ceder” intervalos para me suportar, o que sem dúvida é um dom divino. Ele não é o típico parvo que frequenta a escola, simplesmente pelo acto em si, ele o faz porque sabe que é a melhor e, talvez, a única opção para realizar o seu desejo: Ter a oportunidade que os seus antigos não tiveram. Talvez, esta seja uma das muitas razões pelas quais eu o admiro ou me orgulhe dele, porque ele luta por aquilo que quer e eu sei que, para onde quer que a vida o leve, ele chegará mais longe do que qualquer um de nós. Talvez pela mente dominada pela filosofia e teorias que ele mesmo desenvolve, ele me dá uma visão, não diferente, mas mais ampla do mundo, no modo de explorar todos os pontos de vista de uma situação. Sei lá… é tão complicado descrevê-lo… poderia ser directa e dizer que ele é inteligente e honesto, lógico que com mais qualidades, no entanto acho que lhe devo muito mais do que uma visão objectiva.

Não sei até que ponto, eu me recriminaria por mais erros, se ele não me chamasse à razão e eu sei que, por mais que eu me contradiga, por mais que eu diga que ele esteja errado, por mais que eu tente mostrar que ele esteja errado, ele sempre estará certo… isso é mesmo impressionante e surpreendente, mas é exacto.

Neste momento, recordo-me de tudo o que passamos, não que tivesse planeado passar a tarde inteira com estas cenas do “filme” em mente, no entanto, as lembranças invadiram-me sem convite e, aparentemente, também não estão com pressa para sair… talvez isto seja confuso, mas para mim é óbvio… porque não será para sempre que ele estará aqui… nem de longe. Terei a péssima experiência de viver daqui para a frente sem a intervenção diária do meu melhor amigo, pela razão mais concreta: ele vai embora. Não é por escolha própria, mas mesmo que fosse, eu teria que o deixar ir, porque aqui não era o sonho dele. Sinto-me triste com isso, assim como qualquer pessoa se sentiria se o seu melhor amigo se fosse, é como tirar a areia da praia, simplesmente, não faz sentido. Apenas, não consigo imaginar as coisas sem ele, parece que vai ficar tudo sem graça, parece que tudo vai perder a cor. Eu vejo que ele vai sentir falta de tudo, até do ar daqui… ele sempre me disse, que sentiria falta dos seus verdadeiros amigos, daqueles que sempre estiveram do lado dele, mas eu consigo ver que ele sentirá falta de um lugar, talvez até ao mesmo nível de nós: amigos, ele sentirá falta da praia. E vocês riem-se porque até pode parecer esquisto… “Então na Inglaterra não tem praia?” em qualquer sítio tem praia, mas não aquela em específico. Ele vai sentir falta das ondas quebrando-se na areia, esta simples visão, porque ele cresceu vendo isto todos os dias, vai sentir falta da areia onde, posso afirmar, que ele já passou horas, fazendo o que quer que fosse, até sendo só olhar para o mar, vendo ele mudar de cor de acordo com o reflexo do céu, vendo a água mudar as suas tonalidades de azul para verde e de verde para azul, ou umas cores muito parecidas, e encontrar um reflexo engraçado no pico mais alto das ondas… Disso eu tenho a certeza que ele vai sentir falta, não apenas porque ele me disse, mas porque eu sei que ele, de alguma forma, se adapta de maneira diferente quando entra na área do areal com os olhos alcançando o mar. E também tenho a certeza que ele sentirá saudades das pessoas e dos amigos que ele conheceu aqui, assim como qualquer pessoa, ele sentiria falta do seu sítio favorito, e das pessoas que apareceram que marcaram a sua vida. No entanto, espero que de alguma forma ele lembre-se de mim, não porque escrevi esta porcaria de texto que não serve nem para exprimir a tristeza, não só de sentir que o momento da despedida está perto, mas por já imaginar os meus dias sem ele… não espero que ele se lembre de mim por esta obscenidade de frases e palavras encaixadas que não transmitem nada para além de algo que penso… mas, espero que de alguma forma, do jeito dele, que se lembre de mim.

If the sky above you
Should turn dark and full of clouds
And that old north wind should begin to blow
Keep your head together
And call my name out loud, yeah
Soon I'll be knocking upon your door

 Se o céu acima de ti
Tornar-se escuro e cheio de nuvens
E aquele antigo vento norte começar a soprar,
Mantém a cabeça em ordem 
e chama o meu nome em voz alta
E logo eu estarei batendo na tua porta.

{We have each other to lean on for the road ahead and I know wherever life takes you, a part of you will always be with me}

Adoro-te mais que tudo, melhor amigo, Daniel Fangueiro

Por Mary